terça-feira, 22 de novembro de 2011

Gripe Primaveril

Sim!
Prefiro beber a ler
Os livros da estante estão mudos
Corroídos de traça
As folhas coladas
Manchadas de palavras dissolvidas
Os livros da estante em minha casa
Servem para esconder o mofo da parede
Mofo
Da mesma umidade que me trouxe a gripe
Fazendo-me fechar a janela
Esconder-me do vento
Não ver o verde sensual da lagoa
Resistir à dureza do concreto

Sim!
Os livros das estantes estão retos
Como a geometria cega da especulação imobiliária
Eu em uma tarde primaveril embebedado de gripe
Preso vendo os cantos dos pássaros livres
Observo
O vapor do chá de limão e gengibre
Saindo de uma xícara quieta
Dançando com vento que escorre pela fresta da janela
Eu trago o ruído ao silencio da tarde febril
Tusso, pigarreando o telhado
Catarro misturando-se ao musgo seco
O sol lá de fora é claro
Faz de minha alma translúcida
Vidro
De onda invisível que passa por tudo
Revelasse em luz e sombra na superfície enrijecida do Papel
Os livros da estante hoje não estão sós
Hoje
Leio poesia

Poesia: Rodrigo Vargas Souza/Imagem: Franklin Cascaes

Ainda serão culpados os pobres


Bebo um copo de água
"Límpida"
"Pura"
Diferente do que jorra do cano branco de PVC
Que cospe merda
Óleo de cozinha
Cabelo e xampu
Detergente
Feto de aborto

A água da lagoa é suja
E não foram os pobres quem a sujaram
Foram os burgueses
De idéias podres
No circulo da tarrafa do seu zininho
Apaga-se a beleza que um dia cantou o poeta
Agora vem pouco siri
A lua reflete opaca no óleo das lanchas de cor também branca
Falta peixe no rancho
Diz o pescador
Foram roubados nos barcos lá de fora
Os donos dos barcos e da sujeira
Sujeira que vem junto na tarrafa do seu zeninho
Junto com um pouco de camarão

Poesia: Rodrigo Vargas Souza / Imagem: Franklin Cascaes

domingo, 16 de outubro de 2011

Como era lá fora


Como segurando o crepúsculo
O fogo de chão
Esquenta a chaleira negra
E o amargo do chimarrão reveza a goela com a cachaça
Pelego de ovelha sobre a tábua de araucária polida
A porteira aberta
O carroção e a junta de boi
Andando lentamente
Como se retrocedesse o tempo
Passado e presente misturado
Cavalgando os buracos circulares com cacos de cerâmica
Que hoje abrigam as taperas e a alma de Teiniaguá
O carro avançando o tempo para o futuro
A mesma poeira
A estrada de chão
O açude
O campo pampiano
Os lambaris em pulos
Manchando a paisagem de cor prata
A goleira de pau roliço e a trepadeira magenta
Enquadrando o horizonte que lanha
O verde do azul
As caturritas rompendo o silêncio
As margens do arroio ribeiro
Os butiazeiros carregados de frutos
Coquinhos no chão
Corroídos pelas formigas cortadeiras
Nos capões,
Nos entreveros dos maricás
O eco do pajador
No banhado o esteio com água pela cintura
Abriga os pés da coruja baguala
Como sangue de mesma geometria
A arquitetura do João barreiro
Sobre os postes de energia latente
Cachopa de marimbondo
Mel de abelha
Eucalipto
Tudo é ocupado por bicho guasca
O sol queimando o torrão
O chão do graxaim
Revirado pelo arado
Sanga vertendo
Sanguessuga
Monocultura
Aeromotores e veneno
Riscam a beleza miúda
Da terra do índio minuano ...

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Desenho: Glauco Rodrigues

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A noite dos Stones


A noite sempre deixa seqüelas (...)
 
A lua queimou o piso pálido,
cigarro.  
Cascas de amendoins quebradas,
vazias.
Flores sem cores,
murchas.
Na noite dos Stones
tudo rolou,
poema refeito,  
agulhas sem música;
discos arranhados,
mudos; 
volúpias sem sexo,
sem carne,
alma.  
   
Amanhã dormirei mais cedo (...)

Poema: Rodrigo Vargas Souza

O assassinato do guarda chuva

A chuva parou,
A sopa está fria,
A garrafa vazia,
A sombra da noite passada invade a sala,
Toda a cena tem um colorido,
Como um filme de Truffaut.
O dia violentou a noite,
E o vento assassinou o guarda chuva
Agora permanece torto,
Morto na porta da casa.
A água está fervendo,
Neste dia pálido,
O silêncio é borrado pelo canto do tucano,
Que precede o grito de espanto da chaleira,
E o vômito do bule,
Negro de café.

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Xilo: Oswaldo Goeldi 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Pajador libertário


Como pajador libertário
Escrevo sobre o meu cotidiano
Em prosa
Poesia de não ficção
Na contramão da historia
Saboto em versos a corrupção
Desnudo a miséria de uma nação

Caso o meu verso
Não cause o inverso da situação
Não me preocupo!
Pois os sonhos de liberdade
Brotam dos campos férteis da imaginação

Viva a revolução!

Para : Simões Lopes Neto, Caetano Braun, Noel Guarany
Poema: Rodrigo Vargas Souza

Imagem: Os mineiros de Butiá de Danúbio Gonçalves

Bolsas Victor Hugo


Uma vitrine de bolsas Victor Hugo,
O mesmo nome do escritor de Os Miseráveis.
Como miseráveis maquiadas compram maquiadas bolsas miseráveis,
Miseráveis de idéias,
Com os bolsos cheios de papéis,
Seios e bundas siliconadas
Bonitas como as esculturas de mármore,
Mas mortas como as lápides de mesmo material.
Vida miserável de consumo, idéias, tesão e luzes artificiais (...)

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Fotografia: S.Salgado  

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Excremento em papel

Sou um homem comum,
Primitivo,
Feito de palavras,
Contra os yuppies,
Escrevendo em garranchos meus sentimentos.
Tenho desejo,
Carne,
Matéria.
Meu ateísmo é feio e sujo,
Não sou sexista,
Fascista,
Apenas me chame de pecador,
Ou como queira teu conformismo.
Não tenho muito a deixar
A não ser um pouco de mim
Em vaginas, 
Em papel higiênico,
Palavras dissolvidas no ar.
Sou feito de vida,
Vivida,
Bebida,
Música,
Alguns livros lidos sem vírgulas.
Sou um homem,
Sem métrica,
De matéria bruta que se apodrecerá um dia,
Morrerei de raiva como um cachorro vagabundo,
Uivando liberdade,
Como um louco na mais pura lucidez
Enquanto vivo,
Excretarei porra,
Merda,
Vômito.
Vandalizarei a hipocrisia,
Escrevendo poesia.


Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagens: Banksi
 
  

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Absurdus, Hardcore
















Hoje acordei
depois de uma noite acompanhado de mosquitos e herméticos sonhos que vão além da minha compreensão
Não!
É a realidade irmão...

O denso dia avança para futuro,
o céu é cinza,
o vento transforma a suave dança da fumaça do incenso,
em movimentos Hardcore.

É meio-dia,
o tempo é preenchido
pela sinfonia de uma panela de pressão,
gemidos de uma vizinha em orgasmos,
pedaços do reboco pelo chão.

Na minha paisagem emoldurada,
edifícios vazios
cheios de pessoas anônimas
com suas loucuras,
solidões;
o mundo é um teatro do absurdo!

Hoje gostaria de matar
os idiotas e imbecis que conheço,
mas minha covardia apenas permite mais um poema;
entre poemas
meu fígado fica em conserva de álcool etílico.

Estou sozinho,
o espaço grita,
ouço ruídos pelos cantos,
saio de casa correndo...

Freud chamaria de neurose,
mas é apenas uma reposta para o que queima minha retina,
entope minhas narinas e reverbera em meus ouvidos.

Apesar deste péssimo dia,
encontro em meu caminho
os pássaros em cânticos
em uma árvore nua de outono.

Dissolvem-se assim,
O ódio,
Os ruídos e o desatino...

Poema e imagem: Rodrigo Vargas Souza

sábado, 11 de junho de 2011

Pele, cabelo, farelo e pentelho

Tudo que varro em minha casa é pedaço de mim,
Pelo,
Pele,
Cabelo,
Pentelho.
Tudo que varro em minha casa é pedaço de mim,
Vira poeira,
Passado.
Tudo que varro,
Cai de mim,
Alegria,
Tristeza,
Anarquia!
Tudo que varro de minha casa voa com o vento,
Farelo,
Pentelho,
Cabelo.
E depois de varrer tudo, 
Ainda fica seco,
Grudado no chão,  
Pus,
Lágrima,  
Porra,
Cuspe,
Catarro.
E nas quinas, 
Pelos cantos,
Pele,
Pentelho,
Cabelo,
Farelo.
Não importa a ordem,
Estão todos pela casa,
Como a tinta na tela de um quadro abstrato,        
E tudo que não voa e não gruda no chão,
Permanece vivo na alma,
Amor,
Arte,
Desejo e poesia (...) 

Poema: Rodrigo V.Souza
Imagens: Pollock  

terça-feira, 7 de junho de 2011

Um poema contra Lênin, Papai Noel, Coelhinho da Páscoa e outras histórias fascistas


Mais um poema pedindo para sair,
De novo estou bebendo,
Sentindo-me pesado e inchado,
Escrevo, escrevo e falta poesia.
Torci para chover, pois o meu Tropicalismo é úmido e frio,
Vou fazer uma busca no Google das casas dos meus antepassados,
Malocas em ruínas luso-indígenas de pau e palha,
No deserto verde que na poeira do carroção deixei o meu sorriso de criança.
Sou Beat tupiniquim criado ao extremo sul do mundo,
Subtropicalista, não confunda com fascista,
Mas apreendi no livro do Caminhas como se faz a globalização maquiavélica.
A minha praia é o Intercionalismo Libertário,
Não me restrinja em seu vocabulário,
Não me prenda em nenhum dogma católico,
Minha poesia é capenga,
E meu português errado,
Sid Vicious não era anarquista!
Não confunda com bagunça e com marca de skate.
Sou proletário,
Penso como um,
Contradigo-me, não tenho um pensamento formado,
Porém, não sou pão, não sou massa.
Sou meio, não pela metade, nem partido,
Mas não acredito em Lênin, Papai Noel e Coelhinho da Páscoa,
Só sei que não gosto deste mundo burguês dividido,
Como o objeto,
O objeto humano.
Vivo a flora e fauna,
Perdi-me na pontuação (...)
Insetos voadores,
Sem lenço e movimento,
Voto nulo,
Não me vendo e saio com minha bermuda rota,
Com meu pensamento perfumado de filosofia,
Penso em sexo (...)
Vou mijar e pegar outra cerveja,
O engraçado que nesse mundo é impossível não se contradizer,
Agora escrevo esse poema e o corretor do Word da Microsoft está assinalando o mijar
Clico em cima e lá vem a sugestão de urinar,
Não quero estar num contrato de compra e venda,
Por isto eu só penso em engendrar,
E pense o que quiser,
Eu engendro este poema,
Engendro em você a anarquia!

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Man Ray

domingo, 15 de maio de 2011

Um vento na ilha

Oh! Amigo,
Você que perambula agora nesta chuva,
Deixando para traz todas as misérias da vida (...)
Você que perambula agora,
Levando consigo o barro nas botinas
E as pedras da ilha na memória.
- Oh! Que mar lindo mesmo quando o céu está cinza (...)
Você,
Mais uma vez na estrada,
Solitário,
Com sua mochila mágica,
Cheia de livros, idéias, desenhos e @narquia!
Vai amigo,
Mas volte um dia...
E traga consigo o vento em poesia (...)

Poema e fotografia: Rodrigo Vargas Souza 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Das folhas de Kalanchoe

Enquanto as flores secam,
as nuvens dançam na varanda;
a realidade é abstrata pintada de hibiscos.

Os bonecos se reproduzem como alporquia
e você espontaneamente acaricia-se debaixo do lençol.

Os postes reflorestam a paisagem,
uma geometria rígida
sufoca o mangue do Itacorubi.
Boom!

Hoje o mar está azul,
colhi os tomates
e as formigas fizeram do manjericão uma caduca.

Oh! Natureza
e bebês de provetas.
Oh! Ilusão,
buracos negros em meu colchão.
Os mosquitos batem a cabeça no mosquiteiro,
insistem em zunir,
cante um mantra para eu dormir.

O lixo fede lá fora,
eles fecham as janelas e ligam o ar condicionado;
no vaso da sala as flores secam,
as nuvens passam
e das folhas de Kalanchoe
caem novas sementes no solo...


Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: do filme Zabriske Point

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Leve como as pedras

Pedras pesadas,
leves,
sentadas na areia.
Nuvens suaves,
mancham o azul de algodão;
montanhas,
tocam o céu
com seios pintados de pincel,
o resto é água,
sereia e imaginação ...

Fotografia e poema: Rodrigo Vargas Souza

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Fast food

Poemas e mais poemas,
cheios de significados e insignificâncias,
cheios de nada.
Estou escrevendo pouco e pior,
escrevia bastante e às vezes acertava.
O poema é uma loteria onde o prêmio é a luta entre a superfície branca do papel e a tinta da caneta;
a precisão da palavra não depende só da sorte,
mas da sensibilidade.
Sei lá,
não entendo nada de poesia e nunca joguei na loteria,
não acredito na sorte.
O dinheiro não vai resolver os meus problemas;
o problema não é o dinheiro,
são as pessoas,
a ignorância das pessoas que só pensam no dinheiro.  
A poesia é um refúgio,
a imagem pode ser um refúgio;
a loucura é refúgio,
o suicídio é refúgio,
odeio rimas!

Poemas e mais poemas,
cheios de nuanças, chapação e porcarias.
O padrão toma conta da minha inocente poesia,
eu perdi para este mundo sem graça;
não transo mais com as palavras,
elas não saem.
As imagens passam à frente dos meus olhos,
não consigo encontrar poesia num Fast food,
imagine!
Borges inspirado por um Fast food...

Poemas e mais poemas,
nada é o que convém;
subo no ônibus cheio de rostos estranhos,
tudo dentro do meu cotidiano é estranho e igual;
prefiro o estranho que o igual,
o que se faz quando tenho os dois, o estranho e o igual?
Sou tão estranho e tudo muito igual.

Poemas e mais poemas,
odeio poetas que vão à Fast foods;
os personagens sartrianos irão viver no futuro em Fast foods?
Com cara de palhaço?
Não, não, não!
É um pesadelo tão grande que às vezes confundo-me.
Onde está o sol?
O tédio esquece de tudo,
odeio poetas...

Poemas e mais poemas,
tanto dinheiro e pessoas morrendo de fome.
Tantos Fast foods e pessoas morrendo de fome.
Tanta comida e pessoas morrendo de fome;
e o poeta que contradição,
morrendo de... 


Poema e croqui: Rodrigo Vargas Souza

Perdoem o papa



Milhões de pessoas mortas na santa inquisição
E o papa morreu
Milhões de pessoas mortas em campos de concentração
E o papa morreu
Milhões de pessoas mortas em guerras religiosas
E o papa morreu
Milhões e milhões de pessoas vivendo em miséria absoluta
E o papa morreu
Milhões e milhões de pessoas  morrendo de fome
E o papa morreu

Morreu...

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Artista : João Osorio Brezezinski
Fotografia: Gilson Camargo

A paisagem espalha meus olhos (Cor)

O ouro não vale mais que o feijão!
filosofia,
armários cheios;
basta-me poesia e pão.

Discos de jazz,
bossa;
vitrolas sem agulhas;
horas,
pautas,
notas e partituras.

Holismos,
luz de vela;
samba, 
hip-hop,
Coca-cola,
cocaína,
água ardente.

Mosca cult,
plástica,
Tropicalismo.

A paisagem espalha meus olhos,
imensidão,
grão!

o lençol,
o teto,
o vão,
o acaso.

sem forma, lógica é só coração;
sutileza da palavra.
O branco e preto no papel, simples água,
chuva agora.
Na cabeça,
imagem,
o sol laranja misturado ao mar azul;
lilás...

Eu não estava sozinho...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Erro de projeto

Imaginei você na linha do horizonte,
Fiz o traço,
Desejei a forma
Tropecei na curva de nível,
Bati a cabeça na linha de terra,
Me perdi nos pontos de fuga.
Acreditei que eras minha poética do espaço,
Desenhei todas as vistas,
Criei corredores de vento,
Senti teu cheiro,
Quis você em balanço,
Mas esqueci os cálculos dos momentos....

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Minha Varejeira

Que merda!
Cada vez aparece mais,
É no bar, no mato, no banheiro,
Elas estão em toda parte

Já tentei de tudo,
Veneno,
Folhas de cinamomo,
Até fogo coloquei,
Mas não adianta!

Esse inseto quer-me fuder,
Fica só azucrinando,
Não deixa mais eu dormir

Ela pensa que eu sou moscardo


Ahhhh!

Poema: Rodrigo Vargas Souza 

Girassol

A noite,
Barcos,
Os olhos dilatados da mesa,
Em algum lugar,
Gira sol...
Você e as notas
Ocupam o mesmo espaço
Em momentos diferentes,
O mundo gira,
Sol,
Girassol...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

P

Parábola
Parada
Paranóia

Para didático
Parafina
Parafuso

Parapeito
Paradoxo
Paranormal

Paralogismo
Paralisia
Parasitismo

Paralúnio
Paralela
Paraíso

Para sol
Para quieto
Para tudo! 

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Verso desbotado ( trecho parcial do poema os anjos estão caídos)

Meu ser à flor da pele
Bate de frente com a insistência de existir,
Minha vida perambula pelo tempo a procura de espaço
Não consigo mais fugir...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Ciclo Humano

Neutrinos,
Buracos negros,
Minha solidão.
Anarco-punks,
Conhaque de gengibre,
Todos pelo chão.
Não falarei,
Ninguém vai entender,
Entre o concreto e o abstrato,
O objeto,
O fracasso,
A vertente do irreal,
Subconsciente,
Subdesenvolvido,
A verdade inexistente,
Universo paralelo,
Tudo está em mim,
Tudo está em você,
Cegueira infinita,
Prisão do ciclo humano.

Poema: Rodrigo Vargas Souza 

VER

Poema visual: Rodrigo Vargas Souza 

Desmistificação

Colibris na retina,
O furo do oco,
O buraco do olho.
Torres góticas,
Furúnculos atômicos,
“Representamen” objeto.

A humanidade parcelada,
Inacabada,
Aniquilada,
Autodestruição:
Ganância, dinheiro, corrupção.

Kaos,
Teorema de Pitágoras,
Halls.
Um banho de piscina do burguês,
Causa provável,
Um tiro na cabeça do esfomeado.

Desvio de função,
Escravidão fabrical.
Inventar signos,
Paradigmas, náusea.

Espaçonave,
Hipótese Sartriana,
Deus,
Mentira!
Mística enganadora,
Bruxaria,
O cabo da vassoura no cú do papa,
Antes da cruz de Jesus.

Imbecilidade, sufrágio universal,
Prostituição passiva.
Votar anula-se,
Venda de carne humana,
Liquidação.

Caralhos voadores,
Acidentes nucleares,
Presidentes enforcados.
Breton, Rimbaud e Allen Ginsberg,
Todos delirando na távola redonda,
Rei Arthur sentado na excalibur.
Almoço nú com William Burroughs,
Suco de peiote, salada de cogumelo.
Permita-se sonhar!
Use a imaginação,
O poema não é hermético,
Só não é cientifico.

Não tem razão
Não é cristão...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Ácaros, Arte, Ar

A luz da lua fracionada
Suavizando a superfície encardida,
Desenhos de papel manteiga,
Poemas beats,
Putas, sonhos de Sigmund Freud,
Paredes irregulares,
Teoria da relatividade.
Plástica,
Idéias de concreto armado,
Cannabis,
Lápis Carandachi,
Traços expressivos,
Ecos de Contrane,
Ácaros, arte, ar...
A vida dilatando-se no quarto fechado
Mictório dadá de Duchamp
Vinho, inverno, vinil.
Você ali eternizada no papel,
Nada mais
Antes do silêncio
Dois pontos de fuga,
Papel rascunho,
Esquadro, tetos e pontas.
Água ardente,
Lençol, corpo, forma.
Espaços vazios
Tudo é tão só matéria.

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Imbecis

O sonho é inteligível o suficiente
Para desnudar a poesia,
Oco que encontra-se
Dentro das cabeças esvaziadas
Mostra a fraude que somos
Teatralmente
Lúdicos,
Líricos,
Românticos,
Imbecis...
Não acredito
Na cultura dos livros
Não acredito
Na cultura do lixo
Sou livre, livre!

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Desejo

Desejo sonhar,
Imaginar,
Sem utopia
Realizar
A inquietude de poder apaixonar.
Poder sem poder,
Ter reação,
Ser no sentido amplo da palavra
Não vegetar.

Poema: Rodrigo Vargas Souza

O poeta que virou um covarde

Ontem minha flor chorou,
Entorpecida pela ilusão
Da matéria que me maltrata.
Eu num estado de inércia,
Acorrentado já não vejo a cor que grita
Num pedaço dilatado de tempo.
Cego futuro de um buraco coletivo,
Estou sendo vencido
Nessa falta de sentido,
Que saudade de ser poeta...


Poema: Rodrigo Vargas Souza

Revolver

Aqui ainda existo,
Sem a imobilidade da paz
Ainda insisto,
Vivo até o osso
Revolvendo o espaço.

Poema: Rodrigo Vargas Souza

No som desses dias sinto-me Arnaldo

Na penumbra
Encima da mesa,
Vinho amargo,
Polenta frita.
A 6h da manhã
Agulha chiando,
Eu e o copo torto
Segurando o corpo,
O resto e o oco.
Procuro a vitrola
Que tocou ainda pouco,
Perdido no casebre sem reboco,
Danço Pitágoras,
Sem Rita,
Bato a cabeça na quina da cama,
Acordo e volto.
Tudo vazio novamente,
Só um copo de água ,
Poemas de Lorca,
Discos da tropicalha.
O vento batuca a porta,
Respiro novamente o teu cheiro,
Recomeço tudo outra vez...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Não quero comprar ninguém

Não me interessa a vida de terno e gravata,
O dinheiro não é o bastante para meu gozo mortal.
As pessoas estão em liquidação,
Não quero comprar ninguém.

Não suporto shopping center,
Odeio o português correto,
Pior são aquelas pessoas que ficam te corrigindo,
Parecem àqueles verificadores de ortografia do computador,
Regras, regras, só regras.

Os sorrisos falsos são cânceres que corroem minha ingenuidade,
Sonho todos os dias com o mundo que inventei,
Acordo e convivo nesse pesadelo com tanta gente sem graça,
Acabo sendo um sem graça vomitando utopias.

Resumo-me na minha própria deconstrução,
Sou fragmento,
Sou ficção.
O pior de tudo é quando você descobre que é tudo ilusão.
Esforço-me para ao menos existir, nem sempre consigo.

Não me interessa essas babaquices,
Esses conceitos preestabelecidos,
Essa estética burguesa,
Essa ordem televisiva.

Interesso-me pelo ar que respiro,
A água que bebo,
Pelo fogo hipnotizador das almas vivas.

Hoje vejo as árvores dançarem ao som do vento,
Transmuto novamente meus sonhos para realidade
Volto a crer na beleza de todas as coisas.

Fico a margem da minha lucidez,
Convivo com meu ser lúdico.
Reescrevo-me na minha poética tosca,
Volto ao crepúsculo
Revolvo-me na aurora
Não desisto!

Poema: Rodrigo Vargas Souza 

sábado, 29 de janeiro de 2011

Rabo de foquete II

Um cheiro de parafina,
Os mistérios da terra do Nei Lisboa,
Um piano mágico dissolvendo-se no tempo,
Enquanto escrevo este momento.
Um baseado queimando nos dedos,
Um sonho de uma cidade mística,
Que era Pelotas, Olinda, Porto Alegre, Floripa!
Eu e você perdido nas ruas disto tudo,
Como um prazer de ter você nua,
Linda como as ondas frias da Joaquina,
Como flores molhadas com o seu imaginário regador vermelho,
E o vento vindo da lagoa batendo na minha face na sacada,
Enquanto o lado B em seu final triunfante faz chiar a agulha

Para ler ao som de "Viaja no cosmo não precisa gasolina" - Nei Lisboa
Poema: Rodrigo Vargas Souza

sábado, 15 de janeiro de 2011

Como uma gravura em minha mente

Nesse calor denso,
O ventilador arranca da parede minhas aquarelas
Que falam de nossos pedaços genitais.
Você nua na cama destacando-se das dobras dos lençóis
Como uma escultura de Rodin.
Ao fundo dessa cena consumo-me em uma garrafa de cerveja quente...
Nesse dia em que imaginamos os nossos desejos nas nuvens passantes,
Meu tesão faz despencar os livros da estante...
Os vaga-lumes criam a constelação desse momento,  
Os relâmpagos em orgasmos múltiplos iluminam o teu corpo
Tudo fica como uma gravura em minha mente... 

Poema: Rodrigo Vargas Souza