quarta-feira, 25 de julho de 2012

Poema: Florianópolis



Um piano tocado por dedos tortos
Acompanha a chuva cálida
A tinta espessa na tela
Grita em gestos atormentados 
As roupas retorcidas sobre a cama
Cheiram ao excesso do teu corpo
A Sala é abstrata de tantas ausências
O espaço insiste em ser rarefeito de cor 
Hoje o gris deixa o céu denso  
Espalha uma onda de luz branca
(No I Ching só há linhas interrompidas) 
Mas há um cheiro de flor  
Rompendo a concisão do dia 
Mas há um gosto de cor (amarela)
Furando a melancolia...

Poema e imagem: Rodrigo Vargas Souza

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Segundo Tempo - O idiota sou eu

Quarta-Feira, dia 05 de julho de 2012


Mais um dia idiota com pessoas medianamente idiotas. O assunto mais interessante do dia entre postagens idiotas é um jogo de futebol idiota, transmitido exclusivamente por uma emissora idiota. A idiotice poderia ser pior, mas acabei em um boteco com um monte de bêbados; realmente, pessoas pouco interessantes para um mundo de relações virtuais e falsas. Ainda sim, muito melhor que o facebook, Kant (que era um recalcado) e Shakespeare (que todo mundo tem que gostar). Mas para mim não importa nenhum pouco o jogo idiota transmitido por uma emissora reacionária (para ser razoável). Também não tenho a pretensão de escrever um poema ou qualquer coisa classificado como gênero literário. Mas tenho que registrar a diversidade; a diversidade de um boteco com um monte de bêbados como eu vendo uma partida de futebol. Ser torcedor de um time é uma experiência próxima de um partidarismo nacionalista, progressista, socialista, nazista ou fascista, ou seja, partido ( parte = sustentabilidade do sistema capitalista). Mas aqui na ilha barroca de Cascaes a heterogeneidade é um suruba antropológico. Resumo: eu bebendo uma cerveja, vendo um pescador cheio de rugas e historias na cara empinar seu martelo ácido. Um torcedor com camisa do Avaí (não identifique para quem torcia) falando sobre as finais do Boca Junior. Um Cearense, torcedor do Corinthians falando que era um jogo de favelados. Um cara soltando peidos com a camisa da escola de samba campeã dos últimos três carnavais da cidade. Uma mesa de quatro jogadores de domino (em pleno marasmo, parecendo que estavam no passado) e um monte de garrafas majestosas na parede, etc. Parei para escrever este texto no intervalo de um jogo de futebol... Mas escrever para o mundo atual é uma idiotice tão grande que prefiro apenas viver... Lá vou eu para o segundo tempo...



Texto e Imagem: Rodrigo  Vargas  Souza



"Here I'm allowed, everything all of the time
Here I'm allowed, everything all of the time

Ice age coming, ice age coming
Let me hear both sides
Let me hear both sides
Let me hear both...

Ice age coming, ice age coming
Throw it in the fire
Throw it in the fire
Throw it in the."

Trecho da Letra Idioteque: Radiohead




segunda-feira, 2 de julho de 2012

Lápis 6B




Segunda feira
Faz frio
Ele sai com seus sapatos pesados
A mesma calça rota
E um casaco de veludo dos anos 80
No bolso
No lugar dos documentos, celular e cartão de crédito
Um walkman com uma fita de Stravinsky   
Um lápis 6B
E um pouco de dinheiro
Pouco, mais o suficiente para preencher a solidão do dia
Senta na mesma mesa revestida de papel Kraft
Pede uma taça de vinho bordô para o mesmo garçom cansado
No qual nunca trocou uma palavra
Toma o vinho com notas acentuadas de vinagre
Calado
Começa a traçar linhas tortas na mesa
Definindo sua arquitetura vazia
Preenchida apenas de calungas fáticas
Após algumas horas
Deixa a mesa nua
O copo com a solidão
E entra em sua madrugada
Habitando os espaços defeituosos da rua
As pessoas cegas vêem apenas ele sozinho
Pulando no meio do nevoeiro
Zombam de sua loucura
Mas ele com indiferença dança
Dança com suas calungas 


Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Rael Brian