Poesia barata nas ruas de Floripa, Out. 2013
domingo, 20 de outubro de 2013
Natureza morta - nº 1
Rodrigo Vargas Souza
Título: natureza morta - nº 1
Técnica: tinta acrílica e stencil sobre tela
Florianópolis - 2012
UM ASSALTO NA CASA DE GERTRUDE STEIN
sonhei que assaltei a casa de Gertrude Stein
estava de cara com estes escritores bundões
estava decidido a colocar o pé na porta
e arrombar a história da arte e da literatura
Sai determinado pelas ruas de Paris
era outono
fazia frio
havia merda de cachorro por todos os lados
o cheiro de perfume era insuportável
Os prédios monótonos geminados
cuspiam-me a chuva
a chuva que sempre aparece
quando pensamos em caminhar por Paris
Cheguei à frente da casa de Gertrude Stein
(número 27 da rue de Fleurus)
eu estava molhado e com os sapatos furados
então subi precariamente
resvalando
pela trepadeira que dava até a sacada
da janela da sala de Gertrude Stein
Neste sonho ao menos
dei sorte
a trepadeira era caduca
e como estava no outono
faltavam-lhe as folhas
Mas qual era o meu objetivo mesmo
não era matar ninguém
estava determinado a roubar todas as bebidas
daquela que ditava as regras das artes
e da literatura do início do século XX
Entrei na sala de Gertrude Stein
ela estava bêbada
desmaiada
sobre uma poltrona de costa para a janela
A janela que entrei
Ela era feia como eu pensava
era a única coisa que me passava
pela cabeça naquele momento
Sai caminhando em lento compasso
varava a sala
com toda minha gloria larapia
senti-me um anarquista expropriador
e nesta época “sonhistica”
era contemporâneo de Radowitzky
o que me deixava ainda mais
orgulhoso e otimista
Passo a passo penetrei
no AP de Gertrude Stein
tudo era comum e sem graça
então em meio aos quadros de Picasso
estava o beberão do Ernest (Hemingway)
mas ele tinha cara de Trotsky
cantarolando com um sotaque insuportável
alguma canção que se assemelhava muito
“Ai, Se eu te Pego”
Antes que ele me visse
e lhe deu um soco na cara
ele era bem maior do que eu
mas para um sonhador
tudo é permitido
então, eu o derrubei
apenas com um único soco
caiu, espirrando sangue pelo nariz
e antes que ele desmaiasse
eu em tom profético
Disse:
- escritor de merda!
- este é pelo teu comunismo autoritário
- traidor do movimento operário
Logo depois
rapidamente
esvaziei uma sacola
que estava cheia de manuscritos
e recolhi todas as bebidas da casa
Assim, entrei para história da literatura
como sempre sonhei
fugindo pela porta dos fundos
com todas as bebidas
da casa de Gertrude Stein
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Sabor maça verde
As pessoas têm o mesmo cheiro
As mesmas programações
As mesmas opiniões
Os mesmos desejos
Nesta hora
O sol não lambe mais a superfície da areia recheada de bitucas
Agora na lagoa¹ espumosa de detergente (sabor maça verde)
Banham-se apenas os Ascaris lumbricóides
Carbonatado pelos carros
Ocupados por uma “pessoa”
O poeta sem sombra caminha
Sonhando com algum sorriso
Sem gosto de pasta de dente
Ontem o ultimo pedaço da lua
Curou o vício
Colando o dedo no cú da mesmice
As pessoas sempre esperam algo
Um resultado
Ressonâncias de palavras vazias
Azedando os ouvidos
Não há nada de interessante (¿!)
Apenas barbas paralíticas
Emitindo bafos Zizekianos
Paus ensacados em cuecas box²
Pelos pubianos raspados geometricamente
Músculos e rebolados
Exaltados em whisky com Red Bull
Preenchem a noite (torpe)
Caminhar é melhor...
Poema: RVS
¹ Lagoa da Conceição
² ou boxer
² ou boxer
sábado, 23 de fevereiro de 2013
No ânus da poesia
Um zumbido no cerebelo
Teclando os dedos lisos
Querendo as nuanças de prazer
O mudo do espaço
Orquestrando ouvidos
A luz jorrando do soquete do quarto
Emitindo uma onda anêmica amarela
A cama gemendo de orgasmos
O bordo do vinho escorrendo do ânus da poesia
Uma camisa de Vênus moldada pelo sorriso circense do ventre
Um resíduo de uva fermentado na língua
Um gosto agridoce de batom vermelho nos pelos do corpo
Um samba apoteótico na lingerie alegórica
Um pandeiro em estado plasmático
Transforma a sola do pé em farelo
O sol que faz açúcar na fruta
Batuca a pele de dia
A parte caída aparece com a lua bandida
Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Micro-esculturas - Mr Peliche
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Bonecos de panos...
Trecho do poema Carta aos filhos de Da Vinci sobre foto (Boneco Museu Mamulengo de Olinda)
Poema e Fotografia: Rodrigo Vargas Souza
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
No samba da vida
Como pão e margarina
Com embrulho no estomago
Da cachaça
Da fumaça e da costela do Domingo
Do trabalho
Do pouco salário
Do banco de horas
Do cimento-cola
Da graxa
Dos impostos
Das contas já vencidas
Da escola não paga para o filho
Na TV
BBB
Na goela
O catarro
Para o mago¹
Para o supervisor da empresa
Para quem matem o esquema
O escopo e o poema
Das letras acadêmicas
Dramática gramática
Ego amargo
Sabe-se um pouco
Sabe-se um pouco
Por traz da bola
Do time (magazine)
Do gol
Há sempre um oco...
Um furto
Um morto
Na teta da mãe
Outrora na trova
Chupada pelo pai
Embriagado
Faz-se porra
Faz-se porra
(A)Feto
Há mais um dia
Depois da purpurina
Depois da fantasia abandonada na avenida
Há mais um dia
No samba da vida
No ônibus lotado
No sovaco da euforia
Há mais um dia
Para quem pula a catraca
Imposta na vida
Há mais um dia
Não paga!
Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Isidoro Ferrer
¹ Referente a Paulo Coelho
Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Isidoro Ferrer
¹ Referente a Paulo Coelho
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Lagoa dos Patos Ácrata
Habita em mim
Um gosto de terra
Linha reta
Poesia feita do pampa e agua doce
Lembranças das brincadeiras embaixo das Figueiras
Meus berros ecoando
Em um pôr- do- sol impressionista na planície
Nada jamais foi suprematista
Na infância, no presente
No eu lúdico
Carrego sempre comigo a liberdade e anarquia
Nunca acreditei na maçonaria
Se há herança
O pajador é ácrata
Sem simpatia
Sou crioulo
Ateu
Milongueiro
Sambo no solstício (de verão)
Sou como o negrinho do pastoreio
Mas sem patrão estancieiro
Que nunca acreditou na virgem Maria
E em nenhum padroeiro
Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Barra do Ribeiro de Pedro Weingärtner.
OBS: Existe uma pintura de Pedro Weingärtner que retrata a Lagoa dos Patos, porém não encontrei digitalizada.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Uma taça de vinho
(Os grilos e os vaga-lumes estrujam o crepúsculo...)
Na borda fina de cristal
Um resíduo de batom
Esquia-me
Sou língua
Na tinta vermelha
Do teu beijo
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