sábado, 19 de fevereiro de 2011

Fast food

Poemas e mais poemas,
cheios de significados e insignificâncias,
cheios de nada.
Estou escrevendo pouco e pior,
escrevia bastante e às vezes acertava.
O poema é uma loteria onde o prêmio é a luta entre a superfície branca do papel e a tinta da caneta;
a precisão da palavra não depende só da sorte,
mas da sensibilidade.
Sei lá,
não entendo nada de poesia e nunca joguei na loteria,
não acredito na sorte.
O dinheiro não vai resolver os meus problemas;
o problema não é o dinheiro,
são as pessoas,
a ignorância das pessoas que só pensam no dinheiro.  
A poesia é um refúgio,
a imagem pode ser um refúgio;
a loucura é refúgio,
o suicídio é refúgio,
odeio rimas!

Poemas e mais poemas,
cheios de nuanças, chapação e porcarias.
O padrão toma conta da minha inocente poesia,
eu perdi para este mundo sem graça;
não transo mais com as palavras,
elas não saem.
As imagens passam à frente dos meus olhos,
não consigo encontrar poesia num Fast food,
imagine!
Borges inspirado por um Fast food...

Poemas e mais poemas,
nada é o que convém;
subo no ônibus cheio de rostos estranhos,
tudo dentro do meu cotidiano é estranho e igual;
prefiro o estranho que o igual,
o que se faz quando tenho os dois, o estranho e o igual?
Sou tão estranho e tudo muito igual.

Poemas e mais poemas,
odeio poetas que vão à Fast foods;
os personagens sartrianos irão viver no futuro em Fast foods?
Com cara de palhaço?
Não, não, não!
É um pesadelo tão grande que às vezes confundo-me.
Onde está o sol?
O tédio esquece de tudo,
odeio poetas...

Poemas e mais poemas,
tanto dinheiro e pessoas morrendo de fome.
Tantos Fast foods e pessoas morrendo de fome.
Tanta comida e pessoas morrendo de fome;
e o poeta que contradição,
morrendo de... 


Poema e croqui: Rodrigo Vargas Souza

Perdoem o papa



Milhões de pessoas mortas na santa inquisição
E o papa morreu
Milhões de pessoas mortas em campos de concentração
E o papa morreu
Milhões de pessoas mortas em guerras religiosas
E o papa morreu
Milhões e milhões de pessoas vivendo em miséria absoluta
E o papa morreu
Milhões e milhões de pessoas  morrendo de fome
E o papa morreu

Morreu...

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Artista : João Osorio Brezezinski
Fotografia: Gilson Camargo

A paisagem espalha meus olhos (Cor)

O ouro não vale mais que o feijão!
filosofia,
armários cheios;
basta-me poesia e pão.

Discos de jazz,
bossa;
vitrolas sem agulhas;
horas,
pautas,
notas e partituras.

Holismos,
luz de vela;
samba, 
hip-hop,
Coca-cola,
cocaína,
água ardente.

Mosca cult,
plástica,
Tropicalismo.

A paisagem espalha meus olhos,
imensidão,
grão!

o lençol,
o teto,
o vão,
o acaso.

sem forma, lógica é só coração;
sutileza da palavra.
O branco e preto no papel, simples água,
chuva agora.
Na cabeça,
imagem,
o sol laranja misturado ao mar azul;
lilás...

Eu não estava sozinho...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Erro de projeto

Imaginei você na linha do horizonte,
Fiz o traço,
Desejei a forma
Tropecei na curva de nível,
Bati a cabeça na linha de terra,
Me perdi nos pontos de fuga.
Acreditei que eras minha poética do espaço,
Desenhei todas as vistas,
Criei corredores de vento,
Senti teu cheiro,
Quis você em balanço,
Mas esqueci os cálculos dos momentos....

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Minha Varejeira

Que merda!
Cada vez aparece mais,
É no bar, no mato, no banheiro,
Elas estão em toda parte

Já tentei de tudo,
Veneno,
Folhas de cinamomo,
Até fogo coloquei,
Mas não adianta!

Esse inseto quer-me fuder,
Fica só azucrinando,
Não deixa mais eu dormir

Ela pensa que eu sou moscardo


Ahhhh!

Poema: Rodrigo Vargas Souza 

Girassol

A noite,
Barcos,
Os olhos dilatados da mesa,
Em algum lugar,
Gira sol...
Você e as notas
Ocupam o mesmo espaço
Em momentos diferentes,
O mundo gira,
Sol,
Girassol...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

P

Parábola
Parada
Paranóia

Para didático
Parafina
Parafuso

Parapeito
Paradoxo
Paranormal

Paralogismo
Paralisia
Parasitismo

Paralúnio
Paralela
Paraíso

Para sol
Para quieto
Para tudo! 

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Verso desbotado ( trecho parcial do poema os anjos estão caídos)

Meu ser à flor da pele
Bate de frente com a insistência de existir,
Minha vida perambula pelo tempo a procura de espaço
Não consigo mais fugir...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Ciclo Humano

Neutrinos,
Buracos negros,
Minha solidão.
Anarco-punks,
Conhaque de gengibre,
Todos pelo chão.
Não falarei,
Ninguém vai entender,
Entre o concreto e o abstrato,
O objeto,
O fracasso,
A vertente do irreal,
Subconsciente,
Subdesenvolvido,
A verdade inexistente,
Universo paralelo,
Tudo está em mim,
Tudo está em você,
Cegueira infinita,
Prisão do ciclo humano.

Poema: Rodrigo Vargas Souza 

VER

Poema visual: Rodrigo Vargas Souza 

Desmistificação

Colibris na retina,
O furo do oco,
O buraco do olho.
Torres góticas,
Furúnculos atômicos,
“Representamen” objeto.

A humanidade parcelada,
Inacabada,
Aniquilada,
Autodestruição:
Ganância, dinheiro, corrupção.

Kaos,
Teorema de Pitágoras,
Halls.
Um banho de piscina do burguês,
Causa provável,
Um tiro na cabeça do esfomeado.

Desvio de função,
Escravidão fabrical.
Inventar signos,
Paradigmas, náusea.

Espaçonave,
Hipótese Sartriana,
Deus,
Mentira!
Mística enganadora,
Bruxaria,
O cabo da vassoura no cú do papa,
Antes da cruz de Jesus.

Imbecilidade, sufrágio universal,
Prostituição passiva.
Votar anula-se,
Venda de carne humana,
Liquidação.

Caralhos voadores,
Acidentes nucleares,
Presidentes enforcados.
Breton, Rimbaud e Allen Ginsberg,
Todos delirando na távola redonda,
Rei Arthur sentado na excalibur.
Almoço nú com William Burroughs,
Suco de peiote, salada de cogumelo.
Permita-se sonhar!
Use a imaginação,
O poema não é hermético,
Só não é cientifico.

Não tem razão
Não é cristão...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Ácaros, Arte, Ar

A luz da lua fracionada
Suavizando a superfície encardida,
Desenhos de papel manteiga,
Poemas beats,
Putas, sonhos de Sigmund Freud,
Paredes irregulares,
Teoria da relatividade.
Plástica,
Idéias de concreto armado,
Cannabis,
Lápis Carandachi,
Traços expressivos,
Ecos de Contrane,
Ácaros, arte, ar...
A vida dilatando-se no quarto fechado
Mictório dadá de Duchamp
Vinho, inverno, vinil.
Você ali eternizada no papel,
Nada mais
Antes do silêncio
Dois pontos de fuga,
Papel rascunho,
Esquadro, tetos e pontas.
Água ardente,
Lençol, corpo, forma.
Espaços vazios
Tudo é tão só matéria.

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Imbecis

O sonho é inteligível o suficiente
Para desnudar a poesia,
Oco que encontra-se
Dentro das cabeças esvaziadas
Mostra a fraude que somos
Teatralmente
Lúdicos,
Líricos,
Românticos,
Imbecis...
Não acredito
Na cultura dos livros
Não acredito
Na cultura do lixo
Sou livre, livre!

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Desejo

Desejo sonhar,
Imaginar,
Sem utopia
Realizar
A inquietude de poder apaixonar.
Poder sem poder,
Ter reação,
Ser no sentido amplo da palavra
Não vegetar.

Poema: Rodrigo Vargas Souza

O poeta que virou um covarde

Ontem minha flor chorou,
Entorpecida pela ilusão
Da matéria que me maltrata.
Eu num estado de inércia,
Acorrentado já não vejo a cor que grita
Num pedaço dilatado de tempo.
Cego futuro de um buraco coletivo,
Estou sendo vencido
Nessa falta de sentido,
Que saudade de ser poeta...


Poema: Rodrigo Vargas Souza

Revolver

Aqui ainda existo,
Sem a imobilidade da paz
Ainda insisto,
Vivo até o osso
Revolvendo o espaço.

Poema: Rodrigo Vargas Souza

No som desses dias sinto-me Arnaldo

Na penumbra
Encima da mesa,
Vinho amargo,
Polenta frita.
A 6h da manhã
Agulha chiando,
Eu e o copo torto
Segurando o corpo,
O resto e o oco.
Procuro a vitrola
Que tocou ainda pouco,
Perdido no casebre sem reboco,
Danço Pitágoras,
Sem Rita,
Bato a cabeça na quina da cama,
Acordo e volto.
Tudo vazio novamente,
Só um copo de água ,
Poemas de Lorca,
Discos da tropicalha.
O vento batuca a porta,
Respiro novamente o teu cheiro,
Recomeço tudo outra vez...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Não quero comprar ninguém

Não me interessa a vida de terno e gravata,
O dinheiro não é o bastante para meu gozo mortal.
As pessoas estão em liquidação,
Não quero comprar ninguém.

Não suporto shopping center,
Odeio o português correto,
Pior são aquelas pessoas que ficam te corrigindo,
Parecem àqueles verificadores de ortografia do computador,
Regras, regras, só regras.

Os sorrisos falsos são cânceres que corroem minha ingenuidade,
Sonho todos os dias com o mundo que inventei,
Acordo e convivo nesse pesadelo com tanta gente sem graça,
Acabo sendo um sem graça vomitando utopias.

Resumo-me na minha própria deconstrução,
Sou fragmento,
Sou ficção.
O pior de tudo é quando você descobre que é tudo ilusão.
Esforço-me para ao menos existir, nem sempre consigo.

Não me interessa essas babaquices,
Esses conceitos preestabelecidos,
Essa estética burguesa,
Essa ordem televisiva.

Interesso-me pelo ar que respiro,
A água que bebo,
Pelo fogo hipnotizador das almas vivas.

Hoje vejo as árvores dançarem ao som do vento,
Transmuto novamente meus sonhos para realidade
Volto a crer na beleza de todas as coisas.

Fico a margem da minha lucidez,
Convivo com meu ser lúdico.
Reescrevo-me na minha poética tosca,
Volto ao crepúsculo
Revolvo-me na aurora
Não desisto!

Poema: Rodrigo Vargas Souza