terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Rio dos Sinos

Triste rio,
Morto, 
Perdido no vale,
Outrora cheio de vida,
Reluzente brilho,
Ausente nos olhos meus.

Vi fotografia em preto e branco,
Mergulhei ali em imaginação,
Apaixonado,
Como gravura,
Fixou em minha memória,
Tua água límpida em meu coração...  

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem:  Herrmann Rudolf Wendroth: O rio dos Sinos em 1852
   

Chá de Erva Doce



A fumaça do chá quente,
Pat Metheny, Mays e Naná marcando o tempo.
A noite fria e límpida,
o ar gelado e suave.
O incenso do Lila  perfumando o espaço,
um livro de Dyonélio.
O sofá comprado nas Casas Bahia;
sobre ele, as almofadas de chita
e você abafada,
linda, colorindo a cena.
Hoje a vida respira erva doce...  

Poema e fotografia: Rodrigo Vargas Souza

Praia do Sono

Você costura sonhos; 
sonhos reais de um mundo de fantasia.
Você estampa flores nos meus dias
e traz o perfume para minha poesia.

Chita pintada que colore toda minha alma,
hippie grilada ligada em Sidarta.
Eu, lobo da estepe,
uivo meu sentimento em um pedacinho de papel.

O sol na praia do sono ficou da cor da tua pele,
mel, 

abelha.
O néctar impregnou o teu cabelo;
cor das melodias,  
quando você sorri,
eu canto de alegria.


Poema: Rodrigo Vargas Souza


Pré-fabricado




A parede é pré-fabricada
tudo em sua volta é pré-fabricado
o que você pensa é pré-fabricado
o que você vê é pré-fabricado
todas as pessoas que conheço
parecem pré-fabricadas
o que você apreende na escola é pré-fabricado.
O que você pensa hoje,
amanhã,
já pensaram;
o seu futuro e o seu passado
são  pré-fabricados.
A TV é pré-fabricada.
Você não pensa além de uma forma,
seu intelecto é condicionado;
tudo é pré-moldado,
você não cria nada
já ganhou tudo pronto,
concreto armado.
Tua perspectiva cinza e acadêmica já está feita,
você é pré-fabricado (!?)

Nome: Rodrigo Vargas Souza  

Poema Vazio 3

(não tem como ser lido) 
Poema: Rodrigo Vargas Souza 

Poema Vazio 2

Lembrança pintada,
Buraco partido,
Um peito caído,
Sexo batido,
Borboleta sem vida,
Vagina colorida,
Dor mofada,
Jorrando miséria,
Panela amassada,
Revirado, 
O que resta?
Um resto ruído...

Revido!

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Poema Vazio 1

Uma rolha mordida,
Uma dor no peito de desejo sem vida,
Um quadro riscado esperando para ser pintado,
Um livro não lido,
Uma vagina querida,
Uma cadeira mofada,
Uma erva escondida,
Uma flor seca,
Um caule roído,
Um telhado preto de musgo,
Um fusca lembrança,
Uma granja colhida,
Uma louça lavada,
Uma esmola guardada,
Um corpo cansado,
Um amigo não visto,
Um buraco caído,
Um tempo morrido,
Uma dor guardada,
Um câncer nascido,
Um poema vazio,
Um tempo miserável,
Um poema vazio,

Um vazio...

Poema: Rodrigo Vargas Souza

Os meus olhos apodreceram


Hoje arranquei meus olhos da cara,
O trânsito, os prédios, os ruídos,
Correm em meu tecido nervoso.
No viaduto ferve o calor do asfalto
As árvores aqui  são de concreto e o rio fede sem vida. 
Que  paisagem é esta feita por humanos?   

(Um breve intervalo)

Eu volto a escrever este poema,
Neste tempo que encontro,
Os olhos apodreceram.
Sem mais a infância caminho para a margem de uma civilização caótica,
Meus velhos amigos estão longe de si.

O beque acabou,
A umidade, o barulho dos andaimes da construção
Estão matando o meu amor.
Toca neste instante uma música líquida em forma e cor de bolero,
Mas o tempo trará novamente o silêncio...

Poema e fotografia: Rodrigo Vargas Souza 
   

Um dia entre há estátua de Beethoven e uma película de Godard

O tempo é cruel,
E eu nem sei se é solstício ou equinócio,
Mas o tempo também faz coisas belas,
A distância precisa do tempo, 
Precisa mas não é infinita,
E o espaço se faz de tempo finito, 
O espaço está em branco e falta ser preenchido de tinta colorida,
Estou aqui te esperando,
Nesse vazio de tempo, preto e branco.
Com essa tela que ocupa todo o espaço,
Como aquela caixa fotográfica cheia de tempo...  
Vazia está a casa,
Não pela estátua barroca,
Mas pela distância que não é finita
O espaço pode estar cheio,
Às vezes você pensa que não estou, é pelo tempo...
Mas o que importa o tempo quando a distância está presente,
Nesse amor infinito quero que exista tempo sem distância...   

Poema e fotografia: Rodrigo Vargas Souza   

Achamos Dois Psilocybe


Atravessamos o pampa,
Aonde tudo é miúdo,
Até a beleza se perde na imensidão.
O parque latente não existe,
E esse ruído de milonga também não,
Tudo é silêncio, vento, canção.
Fomos ao espaço que estamos contidos,
Ponte de pedra no serro do tigre,
Entreverados nos espinilhos,
Passamos o perigo,
Na Barra do Quarai, cruzeira, fronteira,
Num táxi em los Libres,
Voltamos vivos!
Chapeis mágicos na recordação.
E você colorindo a paisagem do meu coração... 

Poesia: Rodrigo Vargas Souza
Fotografia: Serro do Tigre - Rodrigo Vargas Souza  

Nosso Miro de Papelão



O vinho contorna o beijo,
Na luz azul veludo.
Papel em branco,
Nossa arquitetura,
Incenso suavizando o ar.
A coberta para ti receber,
Para ter teu cheiro,
Minha paixão,
Nosso Miro de papelão

Poema: Rodrigo Vargas Souza ( do livro - Um Pedaço Dilatado do Tempo)  
Pintura: Tinta de serigrafia sobre papelão  - Rodrigo Vargas Souza
    

Carta aos filhos de Da Vinci


Sacadas,
Pescoços quebrados,
Suicídios entre sonhos,
Homossexuais empalados em frigoríficos,
A prosa do poeta sem sombra,
A Mona Lisa sorri após o ato.
Bonecos de panos
Bem mais vivos que muitos humanos.
Vermes,
Carnes prostituídas,
Sacodem a terra santa.
Da Vinci,
Espaçonave a pedal para o abismo da loucura,
O pão que o diabo amassou alimenta os filhos de deus.
Alfinetes e conta gotas vertem o sangue do tempo.
Cadeiras elétricas,
Assentos dos inocentes.
Abriremos as portas dos mundos,
Abriremos as postas dos hospícios,
Estaremos salvos, salvos!          

Poema: Rodrigo Vargas Souza ( do livro - Um Pedaço Dilatado do Tempo)
Imagem: Rodrigo Vargas Souza - Boneco Museu do Mamulengo - Olinda

Numa cena de Byron

Foi campo a fora,
solitário, a procura de meu passado;
as margens da lagoa dos patos
despedi-me de minha vó.

Em fone de ouvido esbugalhado a trilha sonora;
em dia nublado,
isolado no nada,
encontro as raízes.

As flores de plásticos
confunde-se com as reais;
não sei dizer,
mas conheci meu passado
num deserto de capim, pedra abandonado,
onde o vento passa chorando...

Na sepultura aberta vivi a cena de Byron,
e na cidade vazia
cruzei o muro pinchado;
a frase que queria:

 “Se votar mudasse alguma coisa, seria proibido”

Foi ao fundo em minha filosofia,
as margens da hipocrisia
em luto duas vezes...

Restou na paisagem do pampa a casinha vazia.
  
Venho embora,
sonhando com teu sorriso sobre o fundo de chita,
gozando com tuas fotos escondidas em um fundo de armário,
vivendo o teu choro por telefone...

Agora chove lá fora;
na previsão mítica, 
choverá até a próxima lua cheia;
celebraremos a vida em discos, vinhos, livros e poesia...

Poema: Rodrigo Vargas Souza - 2010
Fotografia:  Pampa - Bagé - 2008 
Em memória da vó Aracy 
  

Fodam-se!

Este livro banhado de luz é solido como uma pedra,
Ausente de poesia,
Grita neste espaço denso de fetos poéticos,
E como tudo é dialética,
Eu fujo do processo democrático-construtivista,
Que destrói meu encéfalo.

Esse poema se abortará 
Não conseguirá nascer no meio dessas ilusões materialistas
Como nascerão as flores no meio dessas surdinas de automóveis?

Esse poema se abortará 
Para não sobrar vestígio desse momento burrocaótico!

Esse poema se abortará 
De um mundo que pensa ser livre,
Mas está preso nas idéias políticas-fascistas. 

Esse poema nascerá 
Logo após a intenção humana,
Mas enquanto isso,
Fodam-se!
Fodam-se!
É o que de mais poético consigo dizer...

Vida a poesia e a anarquia!

Eu dedico com carinho toda a minha poesia morta,
Para vocês que constroem esse mundo burrocaótico   
Com toda minha força possível lhes digo,

Fodam-se!


Poema e Fotografia: Rodrigo Vargas Souza  - 2010  

Poema para o pôr do sol de POA


No risco da paisagem adormecerá o circulo,
Fogo,
Lanranja,
Pêssego.
E o barco canta o crepúsculo sobre água,
Veludo, cristal...
A luz iluminará os peixes, e amanhã nascerá úmida, serração.

Texto: Rodrigo Vargas Souza
Fotografia: Final de tarde  POA - Rodrigo Vargas Souza   

Sol de outono ou O trabalho é uma gaiola


As folhas brilham,
Raio,
Onda,
Seda,
Sol,
Eu poetizado toco nas manchas brancas, letras do teclado negro opaco,
E as letras viram palavras pretas na superfície branca, verniz.
Eu como giz dissolvo-me na sombra dessa gaiola fria.
O sol não entra, sorri no lado de fora.

Texto:  Rodrigo Vargas Souza
Foto: Outono de POA 2009 - Rodrigo Vargas Souza    

POA

Sim!
Ontem andei em ti,
Nas tuas ruas úmidas, Adicionar imagem
Na tua pálida arquitetura antiga e fria.

Ontem em um sonho andei em ti,
Sentido em minha face o Minuano que encana na tua geometria rígida.
Oh! E quantos pedaços de mim eu deixei em tuas noites,
Na parte baixa, perdido em pó subindo teus morros para encontrar nossa assimetria.

Ontem andei em ti em um sonho,
Senti saudade da tua cor amarela ao entardecer, do pôr, do lago que é rio, do fantasma Quintana na praça.
Ontem andei em ti e senti saudade dos sebos, teatros e vinhos do bar do André.
Saudade do cais,
Refugio solitário no verão,
Da redenção aonde foi lagarto no inverno e bixo vegetariano.

Ontem sonhei contigo,
Com a cachaça de pimenta do Puing.
Andei em tuas ruas povoadas de anarquistas,
Povoadas de mim e meus amigos, colando cartazes na farrapos...
Sim!
Tenho saudade de ti prostituta!
Que se vende, mas não por tua culpa.

Ontem andei em ti,
Girei nas tuas músicas, historias e poesia,
Sonhei com tuas esquinas povoadas com os meus amigos,

Sim!
Ontem andei em ti em um sonho,
Senti saudade...

Imagem: Porto Alegre/2010 - Rodrigo Vargas Souza
Poema: Rodrigo V. Souza
Set/2010

Lua abstrata

Do teto caem os sinos de lycra
Iluminando tuas pernas lisas
Minha visão dissolvesse em lux
Moldando a imaginação em teu corpo

Enquanto fotografo você entre taças de vinho
Os esmaltes dançam em um balé sincronizado
Na regência da acetona
A caixa torna-se palco improvisado

E na sacada em meio às folhas verdes da cerejeira
Estamos como em um único ser andrógino
Vendo a lua abstrata
Nos rastros dos barcos da lagoa ...


Para xanda
Poema e foto: Rodrigo V. Souza
Set/2010