quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um poema para o fim do mundo‏






AS ESTRELAS CADENTES SUICIDAS

Não consigo escrever a dias
Minha cabeça esta entupida de merda
Saio para caminhar...
Na próxima Sexta-Feira o mundo acabará
Dizem os jornais idiotas
E os idiotas do Faceboock
Por que tudo é reduzido a nada ¿
Ó terráqueo imbecil                                                     
O teu mundo existe mesmo¿

Outro dia
Olhei para as estrelas 
Olhei como o Astronauta Maia  
Para aquelas que piscam
Para aquelas que formam
Desenhos geométricos
Mitologias galácticas
Olhei para as cadentes suicidas
E estas eram muitas
Que como espermas mergulhavam no óvulo da atmosfera

Deus cristão filho da puta
Terás que limpar a terra de teus dejetos 
Chegou à nova era
Sem ilusões
Quimeras 
Viva as treze luas!
Aos oprimidos e anarquia!
Enfim estarei nu contigo YIN...    

Olhei para as estrelas
Pois sou como elas
Bêbado vagando pela quarta dimensão
De repente livro-me de toda esta merda de matéria
Saco que sou uma estrela
Caminhando pela sarjeta cósmica
Cruzo por uma cadente suicida
Prestes a queimar-se na gravidade da atmosfera
Mas antes ela me diz
Pule um dia
Pois alguém poderá pedir  
Um pouco mais de humanidade e alegria...

Poema: Rodrigo V. Souza
Data: 19-12-2012
Imagem: Maia 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sobre o poema Rio com Sapatos



Este poema foi escrito para lembrar o crime ambiental que aconteceu no Rio do Sinos no dia 13/10/2006, mais de 1 milhão de peixes mortos em plena época de desova e reprodução, sendo um dos maiores impactos ambientais acontecidos nos últimos 40 anos no RS.  
O Rio dos Sinos é divido geograficamente em 3 percursos: superior, médio e inferior,  o poema também foi divido em 3 partes (percursos).  O Rio dos Sinos nasce no pequeno município serrano de Caraá, próximo ao litoral gaúcho, passando por Santo Antonio da Patrulha, terra da cachaça e da rapadura e, terminando o primeiro percurso, na cidade de Taquara.  Esta região é composta de pequenas cidades caracterizada pela atividade agrícola. Na nascente do rio a água é límpida e cristalina.  
No percurso médio, a densidade urbana começa aumentar, passando por grandes cidades de colonização alemã, como Novo Hamburgo e São Leopoldo; cidades nacionalmente conhecidas como pólos calçadistas do estado.  Há também um aumento de despejo do esgoto urbano no rio, agravado pelos químicos dos curtumes, nasce assim, o nome do poema, Rio com Sapatos.  
No último percurso, o inferior, a densidade e a poluição urbana aumentam agravados também pelo grande índice de miséria de cidades como Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas. Nas cidades de Canoas e Nova Santa Rita, o Sinos junta-se com outros rios (Caí, Jacuí e Gravataí) formando o Delta do Jacuí, cujas águas formam o lago Guaíba, e seguem para a Lagoa dos Patos  e, por seqüência, para o mar.                     
O poema foi construído pela influência de dois grandes escritores brasileiros: João Cabral de Melo Neto e João Simões de Lopes Neto. O primeiro escreveu o poema O cão sem Plumas, o poema que fala sobre o Rio Capibaribe, considerado por muitos sua obra-prima. O Segundo criou o maior personagem da literatura gaúcha, Blau Nunes que em diversos contos gauchescos aparece acompanhado do seu cusco. Assim nasceu o trecho: Nas margens deste rio não habitam os cães/ sem plumas de Cabral,/
os vira-latas daqui/descendem do cusco de Blau;/Mas que importância isto tem?/São cachorros com pelo ralo,/corroído de sarna,/secos como seus donos pescadores./São rios diferentes,/ mas assemelham-se na sujeira e na miséria.
Por fim, este poema compõe uma trilogia que ainda não terminei. O Rio com Sapatos é o primeiro poema, o escritor escrevendo sobre o rio.  O segundo poema será o rio falando sobre si e o terceiro narrado não se sabe se pelo pescador e/ou pelo Martim- Pescador (ave símbolo do rio), tal como a trilogia “não premeditada” feita por Cabral composta pelos poemas: O cão sem plumas, O rio e Morte e Vida Severina.
Abaixo segue os links para ler:
Rodrigo Vargas Souza -13/10/2011

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Morfossintática do teu beijo

Meu corpo não te satisfaz
Minha poesia banguela
É pouca para tua boca
Quiça troco
No sorriso que te veste
Minha poesia jamais tocará
Teu cheiro
Teu pelo
Teu beijo revestido de batom vermelho

Poema: RVS

Uma flor brota do árido azulejo sujo do banheiro (ou o espetáculo da sujeira)


Carambolas esmagadas
Orgias intermináveis
Numa paisagem feita de vermes
  
Uma flor brota do árido azulejo sujo  
Nasce no canto
No resto de areia da praia
E do mijo feito no box do banheiro

A citronela suicidou-se na sacada
Bêbada do caco de vidro
Lambuzado de vinho

A lua ignora a chuva
Quer mostrar seus peitos
Seu corpo
Seu cú para o resto do Domingo

Amanhã
No azedo do dia
Na estopeis do ócio
A casa estará limpa
O cheiro terá a estupidez da Qboa
A lua estará vestida  
A flor do banheiro estará morta  
Mas a poesia continuará encardida

Poesia: Rodrigo Vargas Souza

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Esclerose, gastrite e cirrose




O vento arrebenta os prendedores
Telhas
Trincadas
Tensas
Penso no poema de Rimbaud tatuado em tua coxa
Amanhã os pássaros se masturbarão com tuas roupas intimas  
Não será pelo pano
Quem sabe pelo resto pubiano
Pelo cheiro
Eu faço o mesmo  
Um filme mudo
Surdo
Zomba de mim
Eu cuspo nele com minha esclerose   
Preciso sempre de um pouco
Um hoje
Para acalmar a gastrite e a cirrose  
Um silêncio febril
Uma fumaça de carne e osso
Impregnada na lã  
Na sala    
Uma música sem volume
(4’33” de John Cage)
Um pandeiro
Sem som   
Quero ouvir a nudez do vento
No cume  
Sou o outrem
Que risca a pele de nanquim
Preenche a goela de vinho
Violenta as paredes pálidas fora de prumo           
E guarda o gemido e o gozo
Nos chakras
No corpo úmido (de suor)
Expõe o aço à ferrugem
Como um gosto azedo no beijo
E azeda o mofo e o resto que há de tempo
Perdido 

Poema e fotografia:RVS 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Historias: Poema Brasileiro e perdoem o Papa


Imagem: León Ferrari 


Em 2001 lançávamos o primeiro Uivo Zines em formato de papel (http://uivozines.blogspot.com.br/2008/03/uivo-zines-1-edio-2001.html) com o objetivo de divulgar as idéias anarquistas e reunir quem estivesse a fim de escrever, tudo com um espírito "faça você mesmo". Nesta primeira edição conheci a obra de Ferreira Gullar em um poema singular. O poema exato me fascinou, era mesmo um "Poema Brasileiro" de protesto e denuncia da situação de fome do Brasil e, que vinha ao encontro no que trabalhávamos na época: a reconstrução do movimento operário (COB) e a educação de jovens e adultos (MOVA) em uma cidade periférica da região metropolitana de POA.         
Em 2005 o Papa João Paulo II morreu, houve uma superexposição na mídia, “o Papa é Pop”; respirávamos comoção cristã, era o momento de renovar as forças dos fiéis e fazer um upgrade no vaticano. Assim escrevi naquele momento um poema que se chama “Perdoem o Papa” e enviei para minha lista de emails com uma imagem do artista João Osório Brezezinski¹, logo fui censurando e criticado (só perdeu para quando critiquei o Papai Noel na véspera de Natal) e, ao mesmo tempo, notava que algumas pessoas tinham gostado. Assim este poema, chegou até ser, o meu poema mais conhecido (isto não é muito difícil) ao lado do Poema Ruídos...    
Revendo todos estes textos, o que poderíamos chamar de historias, cheguei à comparação dos dois poemas (sem pretensões) e logo percebi certa semelhança... Historias são feitas encima de outras  historias...      

Perdoem o papa

Milhões de pessoas mortas na santa inquisição
E o papa morreu
Milhões de pessoas mortas em campos de concentração
E o papa morreu
Milhões de pessoas mortas em guerras religiosas
E o papa morreu
Milhões e milhões de pessoas vivendo em miséria absoluta
E o papa morreu
Milhões e milhões de pessoas  morrendo de fome
E o papa morreu

Morreu...

Poema: Rodrigo Vargas Souza (2005)
Imagem do Artista  João Osorio Brezezinski  (¹ ver no Link: (http://quantovocecusta.blogspot.com.br/2011/02/perdoem-o-papa.html)
Fotografia: Gilson Camargo
Vídeo:(http://www.youtube.com/watch?v=zzDyMYTlJQw)

Poema Brasileiro                                         

No Piauí de cada 100 crianças que nascem 
78 morrem antes de completar 8 anos de idade 

No Piauí 
de cada 100 crianças que nascem 
78 morrem antes de completar 8 anos de idade 

No Piauí 
de cada 100 crianças 
que nascem 
78 morrem 
antes 
de completar 
8 anos de idade 

antes de completar 8 anos de idade 
antes de completar 8 anos de idade 
antes de completar 8 anos de idade 
antes de completar 8 anos de idade 
Poema: Ferreira Gullar   (1962)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Poema: Florianópolis



Um piano tocado por dedos tortos
Acompanha a chuva cálida
A tinta espessa na tela
Grita em gestos atormentados 
As roupas retorcidas sobre a cama
Cheiram ao excesso do teu corpo
A Sala é abstrata de tantas ausências
O espaço insiste em ser rarefeito de cor 
Hoje o gris deixa o céu denso  
Espalha uma onda de luz branca
(No I Ching só há linhas interrompidas) 
Mas há um cheiro de flor  
Rompendo a concisão do dia 
Mas há um gosto de cor (amarela)
Furando a melancolia...

Poema e imagem: Rodrigo Vargas Souza

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Segundo Tempo - O idiota sou eu

Quarta-Feira, dia 05 de julho de 2012


Mais um dia idiota com pessoas medianamente idiotas. O assunto mais interessante do dia entre postagens idiotas é um jogo de futebol idiota, transmitido exclusivamente por uma emissora idiota. A idiotice poderia ser pior, mas acabei em um boteco com um monte de bêbados; realmente, pessoas pouco interessantes para um mundo de relações virtuais e falsas. Ainda sim, muito melhor que o facebook, Kant (que era um recalcado) e Shakespeare (que todo mundo tem que gostar). Mas para mim não importa nenhum pouco o jogo idiota transmitido por uma emissora reacionária (para ser razoável). Também não tenho a pretensão de escrever um poema ou qualquer coisa classificado como gênero literário. Mas tenho que registrar a diversidade; a diversidade de um boteco com um monte de bêbados como eu vendo uma partida de futebol. Ser torcedor de um time é uma experiência próxima de um partidarismo nacionalista, progressista, socialista, nazista ou fascista, ou seja, partido ( parte = sustentabilidade do sistema capitalista). Mas aqui na ilha barroca de Cascaes a heterogeneidade é um suruba antropológico. Resumo: eu bebendo uma cerveja, vendo um pescador cheio de rugas e historias na cara empinar seu martelo ácido. Um torcedor com camisa do Avaí (não identifique para quem torcia) falando sobre as finais do Boca Junior. Um Cearense, torcedor do Corinthians falando que era um jogo de favelados. Um cara soltando peidos com a camisa da escola de samba campeã dos últimos três carnavais da cidade. Uma mesa de quatro jogadores de domino (em pleno marasmo, parecendo que estavam no passado) e um monte de garrafas majestosas na parede, etc. Parei para escrever este texto no intervalo de um jogo de futebol... Mas escrever para o mundo atual é uma idiotice tão grande que prefiro apenas viver... Lá vou eu para o segundo tempo...



Texto e Imagem: Rodrigo  Vargas  Souza



"Here I'm allowed, everything all of the time
Here I'm allowed, everything all of the time

Ice age coming, ice age coming
Let me hear both sides
Let me hear both sides
Let me hear both...

Ice age coming, ice age coming
Throw it in the fire
Throw it in the fire
Throw it in the."

Trecho da Letra Idioteque: Radiohead




segunda-feira, 2 de julho de 2012

Lápis 6B




Segunda feira
Faz frio
Ele sai com seus sapatos pesados
A mesma calça rota
E um casaco de veludo dos anos 80
No bolso
No lugar dos documentos, celular e cartão de crédito
Um walkman com uma fita de Stravinsky   
Um lápis 6B
E um pouco de dinheiro
Pouco, mais o suficiente para preencher a solidão do dia
Senta na mesma mesa revestida de papel Kraft
Pede uma taça de vinho bordô para o mesmo garçom cansado
No qual nunca trocou uma palavra
Toma o vinho com notas acentuadas de vinagre
Calado
Começa a traçar linhas tortas na mesa
Definindo sua arquitetura vazia
Preenchida apenas de calungas fáticas
Após algumas horas
Deixa a mesa nua
O copo com a solidão
E entra em sua madrugada
Habitando os espaços defeituosos da rua
As pessoas cegas vêem apenas ele sozinho
Pulando no meio do nevoeiro
Zombam de sua loucura
Mas ele com indiferença dança
Dança com suas calungas 


Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Rael Brian

domingo, 17 de junho de 2012

A casa do poeta sem sombra



Na casa do poeta sem sombra
As roupas do varal estão mofadas
O papel higiênico acabou
As folhas dos jornais agora têm alguma serventia   
Notícias medíocres
Anúncios de novos investimentos imobiliários
Fotos de uma atriz cult
De certa forma tomaram no cu
O armário bate sua porta desbeiçada
A poeira flutua sobre a superfície dos móveis
O leite coalhado emite um cheiro azedo sobre o fogão sujo
A parede do banheiro encardida
As formigas endoidecidas dentro de um pote de geléia de figo
A úlcera curada na umidade do ar
Latas de sardinhas amontoadas no lixo 
O sol fugindo da janela
O poeta pálido lentamente posiciona a sua cadeira de praia  
No local mais séptico da casa 
Senta com o cabelo lambido para o lado
E com todas as espinhas da cara espremidas   
Começa a recitar poemas para a paisagem
Pausados apenas por goles de conhaque de gengibre     
Sua fisionomia tem um longe de crepúsculo 
Logo as estrelas chegarão
E a garrafa estará vazia 

Poeta e Fotografia: Rodrigo Vargas Souza 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Joaninha Verde da Avenida Beira Mar


Apertando sem querer o botão automático
ela, de repente,
embarca no meu lado
aproveitando a artéria entupida do trânsito.

Ela desfila
explorando a transparência do vidro
e face negra enrugada do interior do automóvel,
tudo como se fosse a superfície lunar.

No vento artificial do ar condicionado
ela flutua com suas asas
sem gravidade,
uma astronauta verde com bolinhas amarelas
viajando pela galáxia plástica e estofada.

Enquanto eu estou parado,
ela explora todas as possibilidades.
Enquanto eu em minha inércia
mastigo o cotidiano pesado,
ela viaja pelo tempo,
poucos metros
são mundos distantes.

Algumas horas passadas
consigo completar mais um dia cansativo;
chego a minha casa,
minhas narinas
lentamente vão se libertando do cheiro de surdina.

Abro a porta,
exausto,
a Joaninha Verde da Avenida Beira Mar
mergulha novamente no ar quente e leve,
suas anteninhas, por um momento,
fitam-me,
parecem zombar da minha existência “humana”.

Voa sem formalidade
sumindo entre as folhas verdes de um pequeno brejal,
ela também está de volta em casa.

Poema:Rodrigo V. Souza
Imagem: Internet 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O copo era de vinho



A lua nua invade a noite
roçando no véu das nuvens passantes.
Cadelas no cio
regendo a sinfonia da madrugada,
cachorros uivantes,
vira-latas em uma orgia de pau, pelos, vagina e luz.

Um caco de vidro aranha o pálido piso bege
respingado de orgasmo seco.
Um inseto invertebrado mergulha dentro do copo,
quebrando o silêncio da superfície inerte;
suas asas,
seu corpo minúsculo
banhado de cor cereja.
Mas quem embriaga hoje
não é a fermentação prolongada,
não é a essência da alfazema concentrada,
são as estrelas que brilham tímidas,
o tímido cheiro de teu cabelo
que insiste no travesseiro.

Um inseto invertebrado mergulhou dentro do copo
quebrando o silêncio da superfície inerte,
sorrindo,
ele respirou o último gosto de vida;

o copo era de vinho.

Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: Internet

O rio com sapatos

Arte: Andre Soares

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O rio com sapatos (Rio dos Sinos)



O rio nasce azul                                         (percurso superior)
cristalino
nas montanhas de Caraá.
O rio nasce no litoral,
mas sua água não tem sal;
sua água é limpa
encima do morro
a água nasce
viva.  

A água do rio desce,
leve,
leva o tempo encarnado em sua pele cristalina,
lava,
faz da matéria bruta,
macia,
faz da forma caótica,
polida e círcular;
seixo em forma de seios
de sereias perdidas e embriagadas,
do colono bêbedo,
de cachaça de Santo Antonio.

O rio avança terra adentro,
desce as montanhas
levando consigo o brilho da escama de peixe
Lambari,
Cará,
o peixe é vivo.
Viola,
Dourado, 
corta a água e mata a fome
do colono,
do bugre
sem nome,
sem língua,
sem terra,
que viveu em harmonia com o rio
passado.  

Como o canto do Martim-pescador 
o rio flui até as suaves planícies,
rasga a terra e se lanha nos Sarandis,
transforma-se em água parada
no ventre nu das bromélias,
recebe o sêmen dos mosquitos
em uma orgia de plantas e insetos invertebrados.     


Invertebrado é o rio                                    (percurso médio)
que contorna as cidades do vale;
são arranha-céus que tocam o céu azul
e projetam suas sombras de vidro e concreto
no rio opaco.
Na paisagem de fábricas,
dos colonos que não são colonos,
mas burgueses fabricantes de sapatos;
cospem-se resíduos de curtume no rio,
agora os peixes não têm escama,
os peixes são feitos de couro, chorume e tumor.
O rio é denso
como a memória do pescador,
como a cachaça do pescador,
como o barco podre e desbotado do pescador,
como o barco inerte na terra seca. 
O rio que outrora nadavam os peixes,
bóiam sapatos.

No rio são despachados corpos assassinados,
corpos de gente de carne e osso,
apodrecidos
na mucosa do rio,
na lama negra do rio
que é rompida somente pela draga;
a draga que é o coveiro do rio,
a draga que mistura o lixo a areia,
a draga que transforma o rio em terra ,  
a draga que violenta o rio;
o rio violentado,
o rio cadáver, 
o rio que fede,
o rio que tem sua água calejada, 
avança lento, agora com os seus sapatos.


O rio que corria                                               (percurso inferior)
agora caminha pesado
carregando o lixo,
o esgoto urbano,
o coco humano. 
Tudo que é oco bóia no rio,
fogão,
geladeira,
hardwares,
hardcore.
E nesta altura não há mata ciliar,
não há pássaros,
não há peixe,
há apenas os cadáveres jogados na calada da noite,
há apenas os casebres amontoados
com suas palafitas corroídas
pelo rio ácido;
há fome,
há lixo,
há fedor,
há a pobreza do pescador ribeirinho
que insiste em sobreviver às margens;
as margens de um rio sem vida.
A figura do pescador
agora faminto
morre com rio.

Nas margens deste rio não habitam os cães
sem plumas de Cabral,
os vira-latas daqui
descendem do cusco de Blau;
Mas que importância isto tem?
São cachorros com pelo ralo,
corroído de sarna,
secos como seus donos pescadores.
são rios diferentes,
mas assemelham-se na sujeira e na miséria.


Nas marmitas lambidas
pelas moscas,
nos casebres de telha de amianto
e pregos enferrujados em tábuas podres,
os pecadores existem,
labutam dia a dia com a água densa e oleosa, 
com a esperança de vencer o lixo,
a fome,
a miséria.
O rio caminha com seus sapatos,
sua pele líquida, lanhada e anêmica
abrigam poucos peixes com chips no estômago.
Sua pele já não tão líquida
abrigam poucos peixes com lixo no estômago,
peixes com tumores e pescadores com fome
protestam e não se esquecem de Outubro de 2006:
Mais de 800 pescadores sem o seu sustento,
100 toneladas de peixes assassinados,
boiando, inertes.
O rio com sua pele sólida crivada de cadáveres
abrigou como em Hiroshima milhares de mortos;


este é  um sistema de padrões.  

O rio caminha rumo ao delta,
mistura-se com outros rios,
todos fedem sujos,
podres,
com águas turvas,
tristes,  
trazem poucos peixes mutantes,
peixes eletrônicos,
doentes de esgoto,
doentes de química,
doentes de lixo;
o rio caminha
e como ser vivo
agoniza.  
O rio com os outros rios
caminha em direção ao seu fim,
caminha e com os outros rios vira lagoa.
O rio com os outros rios
caminha em direção ao seu fim;
sonha em matar sua peste no sal do mar,
mas o mar está além do horizonte.
O rio caminha,
caminha com seus sapatos,
caminha  sufocado.
Poema: Rodrigo Vargas Souza
Imagem: da internet

domingo, 15 de janeiro de 2012

Manifestos, sexo e poesia concreta em um dia de chuva


Enquanto você se coça
As tuas mãos entre as tuas pernas
Acaricia minha imaginação
São formas não geométricas
Natureza
Yoga
Posição do cachorro espreguiçando
Calcinha
Nádegas
Bocas
Salivas
Gemidos
Ondas sonoras
Mangue beat
A batida do vai e vem
É beat também
Um livro mudo no canto da cama
A cama sólida e pura
Um cão sem plumas
Você nua
Um 69 em 2012
Poesia e manifestos concretistas
Orgasmos múltiplos
Múltiplos pingos de chuva
A noite caindo suave
Caem suaves roupas
Nudez latente
Entre minhas mãos
Brutos pensamentos
Poesia sutra
Conteúdo
Tesão
Sexo
Cu
Pau
Buceta
Chuva
Chupadas
Peitos
Pelos
Pubianos
Orgasmos
Sono
Sonhos
Sonoros
Suruba
Tudo é arte abstrata
Efervescência
Ebulição
Nuvens abertas como pernas
Sexo e sol
Colorindo a lagoa
Boi de mamão
Tuas mãos
Minhas mãos
Mãos
Nossas mãos
Genitália
Nossos corpos
Grudados
Tensão
Material
Imaterial
Tudo acaba em espermas
Saltitantes entre os lençóis
Mas o tempo violento
Seca
Sobra
Manchas brutas
Em um pano de algodão
Que reveste um colchão de espuma
São manchas brutas
Macias
Poesia concreta
Poema: RVS
Imagem: Picasso

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

9º CONCURSO LITERÁRIO SOPMAC DE POESIA 2011

9º CONCURSO LITERÁRIO SOPMAC DE POESIA 2011
Idealização e Coordenação: Eliseu Penkynha Brazil
DIVULGA RESULTADO FINAL/Dezembro 2011

Participaram deste Certame, 84 poetas, de todo o Brasil, com um total de 206 poesias inscritas. Neste concurso premiamos do 1º ao 10º lugares e mais três menções honrosas. 
A comissão julgadora foi formada por:
Armando Oliveira Lima (Presidente do Instituto Darcy Ribeiro, coordenador do DEPOESIA);
Eliseu F. de Campos (escritor);
João Batista Alvarenga (Professor de Língua Portuguesa e revisor de textos);
Maria Rita Terra Alvarenga (Professora de Artes e artesã);
Sueli Aduan (Oficineira de Literatura pela Secretaria de Estado da Cultura e professora no SENAC).
OS VENCEDORES FORAM:
1º lugar/poesia: SABER DAS CRUZES
Autor: Roque Aloisio Weschenfelder – Santa Rosa-RS
pseudônimo: Tumbante

2º lugar/poesia: MÁSCARAS
Autor: Luiz Gondin de Araujo Lins – Rio de Janeiro – RJ
pseudônimo: Viajante

3º lugar/poesia: ESMERALDAS ENTRE OS LIVROS
Autor: Glauco Paludo Gazoni – Chapecó – SC
Pseudônimo: Lupo Grigiastro

4º lugar/poesia: A TAÇA 
Autor: Vera Maria Barbosa – São Paulo – SP
pseudônimo: Primavera Azul

5º lugar/poesia: OS REIS 
Autor: Renata Paccola – São Paulo – SP
pseudônimo: Jean-Jacques Rousseau

6º lugar/poesia: A FLOR
Autor: Patrícia Diniz Santos – Natal - RN
pseudônimo: Lua Azul

7º lugar/poesia: PELE, CABELO, FARELO E PENTELHO
Autor: Rodrigo Vargas Souza – Florianópolis – SC
Pseudônimo: Zé das Letras

8º lugar/poesia: Uma Longa Conversa Entre o Boneco e o Ventriloquo
Autor: Paulo Roberto da Costa Feitosa – São Paulo - SP
pseudônimo: Pablo Abyss

9º lugar/poesia: ESTANDARTE
Autor: Perpétua Amorim – Franca - SP
pseudônimo: M. Clarice

10º lugar/poesia: DESPERTAR NA CIDADE
Autor: Francisco Ferreira – Betim – MGpseudônimo: Orpheu da Conceição
MENÇÕES HONROSAS

Poesia: DIA TRISTE
Autor: Alan Posenatto – Niterói - RJ
Pseudônimo: Esopo
 
Poesia: OS GALOS DA MINHA RUA
Autor: Reginaldo Costa de Albuquerque – Campo Grande - MS
Pseudônimo: Íris

Poesia: AGÓGICA
Autor: Geraldo Trombin - Americana – SP
Pseudônimo: Areg
ESCRITORES SOROCABANOS HOMENAGEADOS

Lourdinha Blagitz: livro = “Êta Trem Bão, Sô!”, Crearte Editora;
Sueli Aduan: livro = “Avidamente Olho Para o Mundo”
                                 Editora Multifoco;
João Batista Alvarenga: livro: “Plexo Solar”, Crearte Editora;
                      Livro: “Homenagens Poéticas”, Crearte Editora      
Eliseu F. de Campos: livro: “Cronicoesia”, Crearte editora.
Obs.: Os escritores acima receberam Certificado de Menção Honrosa pela homenagem, e, seus livros foram entregues como prêmios aos vencedores do 9º Concurso Literário Sopmac de Poesia 2011.