terça-feira, 22 de novembro de 2011

Gripe Primaveril

Sim!
Prefiro beber a ler
Os livros da estante estão mudos
Corroídos de traça
As folhas coladas
Manchadas de palavras dissolvidas
Os livros da estante em minha casa
Servem para esconder o mofo da parede
Mofo
Da mesma umidade que me trouxe a gripe
Fazendo-me fechar a janela
Esconder-me do vento
Não ver o verde sensual da lagoa
Resistir à dureza do concreto

Sim!
Os livros das estantes estão retos
Como a geometria cega da especulação imobiliária
Eu em uma tarde primaveril embebedado de gripe
Preso vendo os cantos dos pássaros livres
Observo
O vapor do chá de limão e gengibre
Saindo de uma xícara quieta
Dançando com vento que escorre pela fresta da janela
Eu trago o ruído ao silencio da tarde febril
Tusso, pigarreando o telhado
Catarro misturando-se ao musgo seco
O sol lá de fora é claro
Faz de minha alma translúcida
Vidro
De onda invisível que passa por tudo
Revelasse em luz e sombra na superfície enrijecida do Papel
Os livros da estante hoje não estão sós
Hoje
Leio poesia

Poesia: Rodrigo Vargas Souza/Imagem: Franklin Cascaes

Ainda serão culpados os pobres


Bebo um copo de água
"Límpida"
"Pura"
Diferente do que jorra do cano branco de PVC
Que cospe merda
Óleo de cozinha
Cabelo e xampu
Detergente
Feto de aborto

A água da lagoa é suja
E não foram os pobres quem a sujaram
Foram os burgueses
De idéias podres
No circulo da tarrafa do seu zininho
Apaga-se a beleza que um dia cantou o poeta
Agora vem pouco siri
A lua reflete opaca no óleo das lanchas de cor também branca
Falta peixe no rancho
Diz o pescador
Foram roubados nos barcos lá de fora
Os donos dos barcos e da sujeira
Sujeira que vem junto na tarrafa do seu zeninho
Junto com um pouco de camarão

Poesia: Rodrigo Vargas Souza / Imagem: Franklin Cascaes