segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Sobre o poema Rio com Sapatos



Este poema foi escrito para lembrar o crime ambiental que aconteceu no Rio do Sinos no dia 13/10/2006, mais de 1 milhão de peixes mortos em plena época de desova e reprodução, sendo um dos maiores impactos ambientais acontecidos nos últimos 40 anos no RS.  
O Rio dos Sinos é divido geograficamente em 3 percursos: superior, médio e inferior,  o poema também foi divido em 3 partes (percursos).  O Rio dos Sinos nasce no pequeno município serrano de Caraá, próximo ao litoral gaúcho, passando por Santo Antonio da Patrulha, terra da cachaça e da rapadura e, terminando o primeiro percurso, na cidade de Taquara.  Esta região é composta de pequenas cidades caracterizada pela atividade agrícola. Na nascente do rio a água é límpida e cristalina.  
No percurso médio, a densidade urbana começa aumentar, passando por grandes cidades de colonização alemã, como Novo Hamburgo e São Leopoldo; cidades nacionalmente conhecidas como pólos calçadistas do estado.  Há também um aumento de despejo do esgoto urbano no rio, agravado pelos químicos dos curtumes, nasce assim, o nome do poema, Rio com Sapatos.  
No último percurso, o inferior, a densidade e a poluição urbana aumentam agravados também pelo grande índice de miséria de cidades como Sapucaia do Sul, Esteio e Canoas. Nas cidades de Canoas e Nova Santa Rita, o Sinos junta-se com outros rios (Caí, Jacuí e Gravataí) formando o Delta do Jacuí, cujas águas formam o lago Guaíba, e seguem para a Lagoa dos Patos  e, por seqüência, para o mar.                     
O poema foi construído pela influência de dois grandes escritores brasileiros: João Cabral de Melo Neto e João Simões de Lopes Neto. O primeiro escreveu o poema O cão sem Plumas, o poema que fala sobre o Rio Capibaribe, considerado por muitos sua obra-prima. O Segundo criou o maior personagem da literatura gaúcha, Blau Nunes que em diversos contos gauchescos aparece acompanhado do seu cusco. Assim nasceu o trecho: Nas margens deste rio não habitam os cães/ sem plumas de Cabral,/
os vira-latas daqui/descendem do cusco de Blau;/Mas que importância isto tem?/São cachorros com pelo ralo,/corroído de sarna,/secos como seus donos pescadores./São rios diferentes,/ mas assemelham-se na sujeira e na miséria.
Por fim, este poema compõe uma trilogia que ainda não terminei. O Rio com Sapatos é o primeiro poema, o escritor escrevendo sobre o rio.  O segundo poema será o rio falando sobre si e o terceiro narrado não se sabe se pelo pescador e/ou pelo Martim- Pescador (ave símbolo do rio), tal como a trilogia “não premeditada” feita por Cabral composta pelos poemas: O cão sem plumas, O rio e Morte e Vida Severina.
Abaixo segue os links para ler:
Rodrigo Vargas Souza -13/10/2011

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Morfossintática do teu beijo

Meu corpo não te satisfaz
Minha poesia banguela
É pouca para tua boca
Quiça troco
No sorriso que te veste
Minha poesia jamais tocará
Teu cheiro
Teu pelo
Teu beijo revestido de batom vermelho

Poema: RVS

Uma flor brota do árido azulejo sujo do banheiro (ou o espetáculo da sujeira)


Carambolas esmagadas
Orgias intermináveis
Numa paisagem feita de vermes
  
Uma flor brota do árido azulejo sujo  
Nasce no canto
No resto de areia da praia
E do mijo feito no box do banheiro

A citronela suicidou-se na sacada
Bêbada do caco de vidro
Lambuzado de vinho

A lua ignora a chuva
Quer mostrar seus peitos
Seu corpo
Seu cú para o resto do Domingo

Amanhã
No azedo do dia
Na estopeis do ócio
A casa estará limpa
O cheiro terá a estupidez da Qboa
A lua estará vestida  
A flor do banheiro estará morta  
Mas a poesia continuará encardida

Poesia: Rodrigo Vargas Souza